Queria ter uma
irmã. Não precisava ser gêmea – apesar de acreditar ser o máximo ter uma irmã
gêmea. Bastava que fosse uma irmã. Um pouco mais nova, um pouco mais velha,
algo assim. Seria uma companheira, sempre. Deitaríamos em nossas camas, de
lados opostos de um mesmo quarto, e conversaríamos sobre colégio, amigos,
namorados ou brigaríamos, quem sabe. Ou talvez não falássemos nada, mas a
sensação de alguém por perto seria relaxante. Eu pensaria: “Se precisar, há
alguém por perto”.
Eu passaria
minha infância brigando por brinquedos, xingando-a e sendo xingada,
possivelmente, mas seria uma infância feliz, porque eu sempre teria alguém para
brincar. Eu seria inspiração para alguém ou teria alguém em quem me inspirar.
Eu sempre teria alguém para me livrar de encrencas, tiraríamos fotos bizarras
daquelas que só nós saberíamos da existência, haveria alguém sempre sabendo o
que eu quero ganhar de aniversário, com roupas em quantidade duplicada, eu
sempre teria o que vestir para qualquer ocasião. A minha irmã seria minha
confidente, aquela a quem eu contaria os meus problemas mais idiotas e seria
ouvida e compreendida, ela seria minha companheira de passeios quando eu
aprendesse a dirigir e passaríamos horas fora de casa rindo, falando da vida
dos outros, comendo besteira e comprando livros – Sim. Ela gostaria de livros
nem que eu precisasse enfiá-los guela abaixo.
Eu queria. Mas
essa não é uma das coisas as quais podemos fazer algo para resolver. Depois de
quase 20 anos, percebo uma certa solidão. Ficar acordada até tarde pensando no
mundo não é lá das coisas mais confortantes quando se está sozinha. Os amigos?
São ótimos. Realmente incríveis. Mas e quando eles tiverem ou quiserem se
afastar? Estão no seu direito. Uma irmã, por mais que haja momentos de ódio e
vontade de matar, jamais se afastará e será sempre um amuleto. Sinto falta
desse amuleto. Sinto falta de um presente que a vida, infelizmente, não me deu.
B.S.