domingo, 30 de setembro de 2012

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Se endividar de lembranças

Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva, até que somos mais emprestados do que devolvidos. Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças.

(Igor Bonfim)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O seu momento, o seu corredor, as suas soluções.

    Todos nós devíamos um dia parar para andar num corredor vazio, a noite, sozinhos. Um corredor que costuma estar ocupado por dezenas de pés ao mesmo tempo, mas naquele momento encontra-se vulnerável, carregando e guiando apenas os seus passos. Todas as suas atenções, voltadas para você.
    O vento frio adentrando seu comprimento, sendo guiado pela sua forma e volume. Apenas você como obstáculo, recebendo-o todo no seu corpo. Fechando os olhos, você sente-se como se fosse capaz de flutuar naquele momento em que só você e o corredor podem participar. Por um minuto, tire tudo da cabeça. Os problemas, os medos, as angústias e até os motivos bestas que o fazem tirar um sorriso do rosto durante algum momento do dia.
    Depois de caminhar de cabeça vazia, você perceberá que pensamentos automáticos começarão a passar sobre ela. É exatamente neles que você percebe quem você é e o que você realmente quer na vida. Nesse momento, você se encontra sozinho, sem ninguém para te julgar ou te dizer o que pensar. Apenas você sabe o que realmente quer, certo?
    Se alguma dúvida existir, faça esse teste e minutos depois você terá respostas. Sobre os conselhos que você sempre quis ouvir e nunca teve a quem pedir, sobe as escolhas que você precisou fazer, mas decidiu desistir por medo, sobre o futuro, sobre o presente... Mas nunca sobre o passado. Não façamos um teste desnecessário. O passado já nos persegue tanto... Porque trazê-lo para um momento tão magnífico?
    Sobre os resultados? Não divulgue. Nem jamais comente que esse momento existiu. Guarde-o para você. Como aquele segredo que você jamais vai contar, aquele momento só seu que ninguém no mundo, nem mesmo os mais próximos, tem necessidade de descobrir. O seu momento, o seu corredor, as suas soluções. Quando o corredor acabar, levante a cabeça, respire fundo, e sorria, de volta aos caminhos ainda ocupados por dezenas de passos. 



B.S.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Never getting back together


"So he calls me up and he's like
'I still love you'
And I'm like... I mean...
'This is exhausting' you know, like
We are never getting back together
Like ever."

We are never getting back together - Taylor Swift

Ronan


Você acordou de manhã,
E teve uma pequena briga com sua irmã
Por causa das roupas no chão do quarto.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Você põe os pés fora de casa,
E dá de cara com um engarrafamento quilométrico.
Para variar, você está em pé no ônibus.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Brigou com seu namorado, com seu melhor amigo,
Por causa de besteiras do dia a dia?
Por causa de ciúmes?
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Você não faz nada além de estudar,
Se dedicar àquilo que te deixar sem tempo,
Não faz nada além de enfiar sua cara nos livros.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Você sente cólica, passa mal, tem um pouco de febre.
Você quebra uma perna ou um braço.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

O que você me diz,
Sobre aqueles que dormem na rua todas as noites,
Que encontram comida no lixo,
E ainda dividem com seus companheiros?
Ainda acha que sua vida é uma merda?

O que você me diz,
Dos bebês que são jogados nos lixos todos os dias,
Que no futuro pensarão:
“Porque me abandonaram de forma tão desumana?”
Ainda acha que sua vida é uma merda?

O que você me diz,
De uma mãe que vê se filho morrer,
De uma família que perde uma criança
No auge de sua infância?

O que você me diz,
De alguém que luta, mesmo sem forças,
Contra uma doença traiçoeira,
E nem sequer sabe o que está acontecendo?

O que você me diz,
De alguém que depois de tanto lutar,
Acabou sendo vencido?
O que me diz da mesma mãe,
Que viu seu filho lutar, e lutou ao seu lado,
Mas teve que abrir os olhos,
E vê-lo partir
Em plenos 3 ou 4 anos de idade?
Sinceramente,
você ainda acha que sua vida é uma merda?

B.S.


Never regret


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A regra principal

Muito barulho, conversas avulsas, passos e diversos sapatos, o Sol refletindo na grama e pessoas de casaco, e sua cabeça pesava. Solteira, enquanto caminhava pela “passarela da vergonha” dentro do seu colégio, observava os casais melosos que a faziam questionar se seria possível que eles fossem aqueles casais ridículos dos livros.

Nada estava errado, apesar da dor. Nos poucos minutos que lhe sobravam, Kate sentou-se em um dos bancos vazios, e derramou a cabeça para trás, fechando os olhos e se deixando levar pelo barulho que há tanto tempo estava acostumada.

Desse barulho, do meio dos passos com diferentes sapatos, alguém ocupou o lugar ao seu lado no banco. Ela fez menção de abrir os olhos, mas esse alguém apenas a permitiu que levantasse a cabeça, e se mantivesse na completa cegueira voluntária. Segurou uma de suas mãos, e colocou sua outra por trás dos cabelos dela.

Era impossível não saber de quem se tratava. E agora era ela quem não queria abrir os olhos. Não era necessário. O perfume, as batidas fortes no peito, o toque em suas mãos, e aquele abraço já lhe eram suficientes para alcançar a conclusão de quem estava ao seu lado. Ali ela percebia que todo o barulho se esvaia, que a sua dor não sacrificava tanto quanto antes, e tudo isso com seus olhos fechados e dois braços ao seu redor, apenas.

Naquele momento ela percebera que as belezas que seus olhos lhe mostravam não lhe serviam de nada se comparadas à beleza do que sentia, à beleza da velocidade com a qual seu coração batia a cada segundo. Não seriam nada se comparadas com os pêlos do seu braço arrepiados, com os dedos que caminhavam pela sua cintura e a faziam sorrir por sentir cócegas. De nada valiam, se comparadas àquele abraço. Apertado, cheio de importância e cheio de vontade de dar carinho e fazer todos os seus problemas virem abaixo. De nada valiam diante do que sentia, mesmo que ela não tivesse a menor ideia do que se tratava. Simples. De nada valiam.

Kate sabia. Sabia que pertencia a um mundo onde a aparência não interferia nas suas escolhas, onde o tempo não definia a amplitude do sentimento, onde amizades verdadeiras não terminavam, o que acontecia apenas era que as que aparentavam ser, traziam à tona toda a verdade. Ela vivia num mundo onde fechar os olhos e se deixar levar era a regra principal.

"E era por isso que ela gostava daqueles abraços. Os apertados. Porque era ali. Era ali que ela encontrava tudo o que havia de mais bonito."
(Caio Fernando Abreu)

B.S.

Se endividar de lembranças

Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva, até que somos mais emprestados do que devolvidos. Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças.

(Igor Bonfim)

O seu momento, o seu corredor, as suas soluções.

    Todos nós devíamos um dia parar para andar num corredor vazio, a noite, sozinhos. Um corredor que costuma estar ocupado por dezenas de pés ao mesmo tempo, mas naquele momento encontra-se vulnerável, carregando e guiando apenas os seus passos. Todas as suas atenções, voltadas para você.
    O vento frio adentrando seu comprimento, sendo guiado pela sua forma e volume. Apenas você como obstáculo, recebendo-o todo no seu corpo. Fechando os olhos, você sente-se como se fosse capaz de flutuar naquele momento em que só você e o corredor podem participar. Por um minuto, tire tudo da cabeça. Os problemas, os medos, as angústias e até os motivos bestas que o fazem tirar um sorriso do rosto durante algum momento do dia.
    Depois de caminhar de cabeça vazia, você perceberá que pensamentos automáticos começarão a passar sobre ela. É exatamente neles que você percebe quem você é e o que você realmente quer na vida. Nesse momento, você se encontra sozinho, sem ninguém para te julgar ou te dizer o que pensar. Apenas você sabe o que realmente quer, certo?
    Se alguma dúvida existir, faça esse teste e minutos depois você terá respostas. Sobre os conselhos que você sempre quis ouvir e nunca teve a quem pedir, sobe as escolhas que você precisou fazer, mas decidiu desistir por medo, sobre o futuro, sobre o presente... Mas nunca sobre o passado. Não façamos um teste desnecessário. O passado já nos persegue tanto... Porque trazê-lo para um momento tão magnífico?
    Sobre os resultados? Não divulgue. Nem jamais comente que esse momento existiu. Guarde-o para você. Como aquele segredo que você jamais vai contar, aquele momento só seu que ninguém no mundo, nem mesmo os mais próximos, tem necessidade de descobrir. O seu momento, o seu corredor, as suas soluções. Quando o corredor acabar, levante a cabeça, respire fundo, e sorria, de volta aos caminhos ainda ocupados por dezenas de passos. 



B.S.

Never getting back together


"So he calls me up and he's like
'I still love you'
And I'm like... I mean...
'This is exhausting' you know, like
We are never getting back together
Like ever."

We are never getting back together - Taylor Swift

Ronan


Você acordou de manhã,
E teve uma pequena briga com sua irmã
Por causa das roupas no chão do quarto.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Você põe os pés fora de casa,
E dá de cara com um engarrafamento quilométrico.
Para variar, você está em pé no ônibus.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Brigou com seu namorado, com seu melhor amigo,
Por causa de besteiras do dia a dia?
Por causa de ciúmes?
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Você não faz nada além de estudar,
Se dedicar àquilo que te deixar sem tempo,
Não faz nada além de enfiar sua cara nos livros.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Você sente cólica, passa mal, tem um pouco de febre.
Você quebra uma perna ou um braço.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

O que você me diz,
Sobre aqueles que dormem na rua todas as noites,
Que encontram comida no lixo,
E ainda dividem com seus companheiros?
Ainda acha que sua vida é uma merda?

O que você me diz,
Dos bebês que são jogados nos lixos todos os dias,
Que no futuro pensarão:
“Porque me abandonaram de forma tão desumana?”
Ainda acha que sua vida é uma merda?

O que você me diz,
De uma mãe que vê se filho morrer,
De uma família que perde uma criança
No auge de sua infância?

O que você me diz,
De alguém que luta, mesmo sem forças,
Contra uma doença traiçoeira,
E nem sequer sabe o que está acontecendo?

O que você me diz,
De alguém que depois de tanto lutar,
Acabou sendo vencido?
O que me diz da mesma mãe,
Que viu seu filho lutar, e lutou ao seu lado,
Mas teve que abrir os olhos,
E vê-lo partir
Em plenos 3 ou 4 anos de idade?
Sinceramente,
você ainda acha que sua vida é uma merda?

B.S.


Never regret


A regra principal

Muito barulho, conversas avulsas, passos e diversos sapatos, o Sol refletindo na grama e pessoas de casaco, e sua cabeça pesava. Solteira, enquanto caminhava pela “passarela da vergonha” dentro do seu colégio, observava os casais melosos que a faziam questionar se seria possível que eles fossem aqueles casais ridículos dos livros.

Nada estava errado, apesar da dor. Nos poucos minutos que lhe sobravam, Kate sentou-se em um dos bancos vazios, e derramou a cabeça para trás, fechando os olhos e se deixando levar pelo barulho que há tanto tempo estava acostumada.

Desse barulho, do meio dos passos com diferentes sapatos, alguém ocupou o lugar ao seu lado no banco. Ela fez menção de abrir os olhos, mas esse alguém apenas a permitiu que levantasse a cabeça, e se mantivesse na completa cegueira voluntária. Segurou uma de suas mãos, e colocou sua outra por trás dos cabelos dela.

Era impossível não saber de quem se tratava. E agora era ela quem não queria abrir os olhos. Não era necessário. O perfume, as batidas fortes no peito, o toque em suas mãos, e aquele abraço já lhe eram suficientes para alcançar a conclusão de quem estava ao seu lado. Ali ela percebia que todo o barulho se esvaia, que a sua dor não sacrificava tanto quanto antes, e tudo isso com seus olhos fechados e dois braços ao seu redor, apenas.

Naquele momento ela percebera que as belezas que seus olhos lhe mostravam não lhe serviam de nada se comparadas à beleza do que sentia, à beleza da velocidade com a qual seu coração batia a cada segundo. Não seriam nada se comparadas com os pêlos do seu braço arrepiados, com os dedos que caminhavam pela sua cintura e a faziam sorrir por sentir cócegas. De nada valiam, se comparadas àquele abraço. Apertado, cheio de importância e cheio de vontade de dar carinho e fazer todos os seus problemas virem abaixo. De nada valiam diante do que sentia, mesmo que ela não tivesse a menor ideia do que se tratava. Simples. De nada valiam.

Kate sabia. Sabia que pertencia a um mundo onde a aparência não interferia nas suas escolhas, onde o tempo não definia a amplitude do sentimento, onde amizades verdadeiras não terminavam, o que acontecia apenas era que as que aparentavam ser, traziam à tona toda a verdade. Ela vivia num mundo onde fechar os olhos e se deixar levar era a regra principal.

"E era por isso que ela gostava daqueles abraços. Os apertados. Porque era ali. Era ali que ela encontrava tudo o que havia de mais bonito."
(Caio Fernando Abreu)

B.S.

Se endividar de lembranças

Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva, até que somos mais emprestados do que devolvidos. Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças.

(Igor Bonfim)

O seu momento, o seu corredor, as suas soluções.

    Todos nós devíamos um dia parar para andar num corredor vazio, a noite, sozinhos. Um corredor que costuma estar ocupado por dezenas de pés ao mesmo tempo, mas naquele momento encontra-se vulnerável, carregando e guiando apenas os seus passos. Todas as suas atenções, voltadas para você.
    O vento frio adentrando seu comprimento, sendo guiado pela sua forma e volume. Apenas você como obstáculo, recebendo-o todo no seu corpo. Fechando os olhos, você sente-se como se fosse capaz de flutuar naquele momento em que só você e o corredor podem participar. Por um minuto, tire tudo da cabeça. Os problemas, os medos, as angústias e até os motivos bestas que o fazem tirar um sorriso do rosto durante algum momento do dia.
    Depois de caminhar de cabeça vazia, você perceberá que pensamentos automáticos começarão a passar sobre ela. É exatamente neles que você percebe quem você é e o que você realmente quer na vida. Nesse momento, você se encontra sozinho, sem ninguém para te julgar ou te dizer o que pensar. Apenas você sabe o que realmente quer, certo?
    Se alguma dúvida existir, faça esse teste e minutos depois você terá respostas. Sobre os conselhos que você sempre quis ouvir e nunca teve a quem pedir, sobe as escolhas que você precisou fazer, mas decidiu desistir por medo, sobre o futuro, sobre o presente... Mas nunca sobre o passado. Não façamos um teste desnecessário. O passado já nos persegue tanto... Porque trazê-lo para um momento tão magnífico?
    Sobre os resultados? Não divulgue. Nem jamais comente que esse momento existiu. Guarde-o para você. Como aquele segredo que você jamais vai contar, aquele momento só seu que ninguém no mundo, nem mesmo os mais próximos, tem necessidade de descobrir. O seu momento, o seu corredor, as suas soluções. Quando o corredor acabar, levante a cabeça, respire fundo, e sorria, de volta aos caminhos ainda ocupados por dezenas de passos. 



B.S.

Never getting back together


"So he calls me up and he's like
'I still love you'
And I'm like... I mean...
'This is exhausting' you know, like
We are never getting back together
Like ever."

We are never getting back together - Taylor Swift

Ronan


Você acordou de manhã,
E teve uma pequena briga com sua irmã
Por causa das roupas no chão do quarto.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Você põe os pés fora de casa,
E dá de cara com um engarrafamento quilométrico.
Para variar, você está em pé no ônibus.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Brigou com seu namorado, com seu melhor amigo,
Por causa de besteiras do dia a dia?
Por causa de ciúmes?
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Você não faz nada além de estudar,
Se dedicar àquilo que te deixar sem tempo,
Não faz nada além de enfiar sua cara nos livros.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

Você sente cólica, passa mal, tem um pouco de febre.
Você quebra uma perna ou um braço.
Por isso você diz que sua vida é uma merda?

O que você me diz,
Sobre aqueles que dormem na rua todas as noites,
Que encontram comida no lixo,
E ainda dividem com seus companheiros?
Ainda acha que sua vida é uma merda?

O que você me diz,
Dos bebês que são jogados nos lixos todos os dias,
Que no futuro pensarão:
“Porque me abandonaram de forma tão desumana?”
Ainda acha que sua vida é uma merda?

O que você me diz,
De uma mãe que vê se filho morrer,
De uma família que perde uma criança
No auge de sua infância?

O que você me diz,
De alguém que luta, mesmo sem forças,
Contra uma doença traiçoeira,
E nem sequer sabe o que está acontecendo?

O que você me diz,
De alguém que depois de tanto lutar,
Acabou sendo vencido?
O que me diz da mesma mãe,
Que viu seu filho lutar, e lutou ao seu lado,
Mas teve que abrir os olhos,
E vê-lo partir
Em plenos 3 ou 4 anos de idade?
Sinceramente,
você ainda acha que sua vida é uma merda?

B.S.


Never regret


A regra principal

Muito barulho, conversas avulsas, passos e diversos sapatos, o Sol refletindo na grama e pessoas de casaco, e sua cabeça pesava. Solteira, enquanto caminhava pela “passarela da vergonha” dentro do seu colégio, observava os casais melosos que a faziam questionar se seria possível que eles fossem aqueles casais ridículos dos livros.

Nada estava errado, apesar da dor. Nos poucos minutos que lhe sobravam, Kate sentou-se em um dos bancos vazios, e derramou a cabeça para trás, fechando os olhos e se deixando levar pelo barulho que há tanto tempo estava acostumada.

Desse barulho, do meio dos passos com diferentes sapatos, alguém ocupou o lugar ao seu lado no banco. Ela fez menção de abrir os olhos, mas esse alguém apenas a permitiu que levantasse a cabeça, e se mantivesse na completa cegueira voluntária. Segurou uma de suas mãos, e colocou sua outra por trás dos cabelos dela.

Era impossível não saber de quem se tratava. E agora era ela quem não queria abrir os olhos. Não era necessário. O perfume, as batidas fortes no peito, o toque em suas mãos, e aquele abraço já lhe eram suficientes para alcançar a conclusão de quem estava ao seu lado. Ali ela percebia que todo o barulho se esvaia, que a sua dor não sacrificava tanto quanto antes, e tudo isso com seus olhos fechados e dois braços ao seu redor, apenas.

Naquele momento ela percebera que as belezas que seus olhos lhe mostravam não lhe serviam de nada se comparadas à beleza do que sentia, à beleza da velocidade com a qual seu coração batia a cada segundo. Não seriam nada se comparadas com os pêlos do seu braço arrepiados, com os dedos que caminhavam pela sua cintura e a faziam sorrir por sentir cócegas. De nada valiam, se comparadas àquele abraço. Apertado, cheio de importância e cheio de vontade de dar carinho e fazer todos os seus problemas virem abaixo. De nada valiam diante do que sentia, mesmo que ela não tivesse a menor ideia do que se tratava. Simples. De nada valiam.

Kate sabia. Sabia que pertencia a um mundo onde a aparência não interferia nas suas escolhas, onde o tempo não definia a amplitude do sentimento, onde amizades verdadeiras não terminavam, o que acontecia apenas era que as que aparentavam ser, traziam à tona toda a verdade. Ela vivia num mundo onde fechar os olhos e se deixar levar era a regra principal.

"E era por isso que ela gostava daqueles abraços. Os apertados. Porque era ali. Era ali que ela encontrava tudo o que havia de mais bonito."
(Caio Fernando Abreu)

B.S.

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