Nada
estava errado, apesar da dor. Nos poucos minutos que lhe sobravam, Kate
sentou-se em um dos bancos vazios, e derramou a cabeça para trás, fechando os
olhos e se deixando levar pelo barulho que há tanto tempo estava acostumada.
Desse barulho, do meio dos passos com diferentes sapatos, alguém ocupou o lugar ao seu lado no banco. Ela fez menção de abrir os olhos, mas esse alguém apenas a permitiu que levantasse a cabeça, e se mantivesse na completa cegueira voluntária. Segurou uma de suas mãos, e colocou sua outra por trás dos cabelos dela.
Era impossível não saber de quem se tratava. E agora era ela quem não queria abrir os olhos. Não era necessário. O perfume, as batidas fortes no peito, o toque em suas mãos, e aquele abraço já lhe eram suficientes para alcançar a conclusão de quem estava ao seu lado. Ali ela percebia que todo o barulho se esvaia, que a sua dor não sacrificava tanto quanto antes, e tudo isso com seus olhos fechados e dois braços ao seu redor, apenas.
Naquele momento ela percebera que as belezas que seus olhos lhe mostravam não lhe serviam de nada se comparadas à beleza do que sentia, à beleza da velocidade com a qual seu coração batia a cada segundo. Não seriam nada se comparadas com os pêlos do seu braço arrepiados, com os dedos que caminhavam pela sua cintura e a faziam sorrir por sentir cócegas. De nada valiam, se comparadas àquele abraço. Apertado, cheio de importância e cheio de vontade de dar carinho e fazer todos os seus problemas virem abaixo. De nada valiam diante do que sentia, mesmo que ela não tivesse a menor ideia do que se tratava. Simples. De nada valiam.
Kate sabia. Sabia que pertencia a um mundo onde a aparência não interferia nas suas escolhas, onde o tempo não definia a amplitude do sentimento, onde amizades verdadeiras não terminavam, o que acontecia apenas era que as que aparentavam ser, traziam à tona toda a verdade. Ela vivia num mundo onde fechar os olhos e se deixar levar era a regra principal.
"E era por isso que ela gostava daqueles abraços. Os
apertados. Porque era ali. Era ali que ela encontrava tudo o que havia de mais
bonito."
(Caio Fernando Abreu)
B.S.
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