Passei anos dizendo a mim mesma
que isto se tratava de uma amizade de verdade. Acontece que há um momento na
vida em que nossa mente se abre e é iluminada de um jeito incrível. Chama-se
epifania: “sensação profunda de realização no sentido de
compreender a essência das coisas, tudo que pode estar no âmago das coisas ou
das pessoas, isto é, poder considerar que a partir de agora sente como
solucionado, completado, aquilo que estava tão difícil de conseguir”. Tive o meu momento de
epifania e, desde então, não fui mais capaz de mentir para o meu coração, de
dizer que gostaria de estar com essas pessoas, de chamá-las para sair. A vida
nos mostra qual é a verdadeira essência das pessoas próximas de nós e talvez eu
só tenha percebido uma realidade a muito existente.
Humilhar, julgar, querer mudar alguém não faz de você
um amigo que aconselha, mas um ser humano que não sabe respeitar aquele a quem
chama de amigo. Pelo menos o meu conceito de amigo é bastante diferente.
Podemos ficar chateados e incomodados com o jeito de alguém, é claro. Temos
todo o direito. Mas se for para querer mudá-lo, é melhor se afastar e resolver
o problema do seu incômodo sozinho.
Sempre as vi como pessoas em quem me espelhar, mas
hoje dou graças a Deus de não terem sido minhas fontes de inspiração por muito
tempo. Duas pessoas que se acham superiores, uma delas vendo a outra como
rainha do mundo e dando razão a tudo que sai de sua boca. Nada disso me parece
certo. Nada disso parece surgir da base de uma verdadeira amizade.
Não sinto saudade, não penso nelas como as pessoas
com quem quero me divertir nos próximos anos, não penso em viajar e muito menos
em um dia morar com elas. Na verdade, não penso em ninguém desta forma. Viver a
adolescência sendo diferentes de todos os que estão próximos é um pouco
estranho... Talvez eu tenha mesmo vindo de uma época diferente do mundo, talvez
eu tenha recebido lições diferentes em vidas anteriores, talvez, talvez,
talvez. Não sei. Mas não quero levar para o meu futuro pessoas que não sejam
capazes de entender isso e que pretendam me colocar como o ser estranho de um
grupo.
Ultimamente
tenho notado a grande dificuldade que é manter alguém por perto apenas por
querer. Tenho amigos verdadeiros, sei que sim. E destes eu não abro mão. Eu sinto
saudade, eu quero abraçar, quero que estejam perto apenas pelo prazer de estar.
Se para isso eu precisar abrir mão do que três crianças começaram a construir
anos atrás, digo sem me incomodar: eu abrirei.
B.S.
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