sábado, 24 de agosto de 2013

Uma, duas, três vezes ou mais

      Saí de casa numa certa manhã e percebi que tudo estava diferente. A tecnologia dominava o mundo. Não havia mais sinaleiras, não havia mais garçons anotando pedidos nos bares e lanchonetes, não havia professores. Os pais não conversavam mais com os filhos, os amigos não andavam gargalhando na rua.
      No trânsito, os carros paravam quando seus celulares apitavam com novas notificações de redes sociais, todos ao mesmo tempo. Os pedestres notavam sua vez de atravessar, quando a WiFi de seus celulares perdia o sinal. Os pedidos nos restaurantes eram realizados via sms e os atendentes, de longe, executavam as refeições. Pais e filhos se comunicavam via facebook, dizendo, da sala para o quarto: “O almoço está na mesa!”. Os amigos não estavam mais na rua, os amigos já não eram mais verdadeiros amigos, não tinham abraço, não conversavam, só ligados na tela de um computador. Os professores? Coitados... Substituídos por máquinas e mais máquinas, incapazes de negar duas linhas na internet que resumiam todo o seu estudo e tornavam insignificantes quaisquer de suas explicações.
         “Que mundo é este?” Me perguntei quando dei um passo para fora de casa. Meu celular estava na bolsa e eu era o único ser humano capaz de notar o céu azul, os pássaros cantando e pousando perto de mim, os cachorros sentados em frente a frangos girando na calçada. Tentei até perguntar, juro. “Boa tarde, pode me explicar porque tudo está tão diferente?”, mas o que tive foram cinco dedos levantados em sinal de ‘estou muito ocupado, lhe darei atenção num minuto’. E 10 segundos depois, quando sua internet caiu, atravessou a rua sem nem olhar para trás.
        Samsung e Nokia são assuntos mais citados do que amor e amizade. Como? Por que? As previsões do passado eram de que o mundo evoluiria, mas não é isso que observo quando paro por 10 segundos para olhar para o lado nas ruas. Isso não é evolução. Evolução é desenvolver o cérebro e o coração, em passos análogos. Evolução é unir as pessoas, aumentar o prazer de viver, aumentar o viver.
         Não é esse o meu mundo. Não foi aqui que nasci. Vou voltar para a cama, onde as coisas ainda são reais e a vida ainda é de sonhos. Vou dormir e rezar uma, duas, três vezes ou mais, para acordar no mundo de 10 anos atrás: A internet já havia nascido e ajudava em alguns problemas, mas as pessoas ainda sorriam na porta de casa, ainda conversavam sobre seus dias, ainda namoravam, e crianças ainda brincavam. Vou dormir, vou sonhar. Desejar ter um mundo tremendamente melhor outra vez.


B.S.

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Uma, duas, três vezes ou mais

      Saí de casa numa certa manhã e percebi que tudo estava diferente. A tecnologia dominava o mundo. Não havia mais sinaleiras, não havia mais garçons anotando pedidos nos bares e lanchonetes, não havia professores. Os pais não conversavam mais com os filhos, os amigos não andavam gargalhando na rua.
      No trânsito, os carros paravam quando seus celulares apitavam com novas notificações de redes sociais, todos ao mesmo tempo. Os pedestres notavam sua vez de atravessar, quando a WiFi de seus celulares perdia o sinal. Os pedidos nos restaurantes eram realizados via sms e os atendentes, de longe, executavam as refeições. Pais e filhos se comunicavam via facebook, dizendo, da sala para o quarto: “O almoço está na mesa!”. Os amigos não estavam mais na rua, os amigos já não eram mais verdadeiros amigos, não tinham abraço, não conversavam, só ligados na tela de um computador. Os professores? Coitados... Substituídos por máquinas e mais máquinas, incapazes de negar duas linhas na internet que resumiam todo o seu estudo e tornavam insignificantes quaisquer de suas explicações.
         “Que mundo é este?” Me perguntei quando dei um passo para fora de casa. Meu celular estava na bolsa e eu era o único ser humano capaz de notar o céu azul, os pássaros cantando e pousando perto de mim, os cachorros sentados em frente a frangos girando na calçada. Tentei até perguntar, juro. “Boa tarde, pode me explicar porque tudo está tão diferente?”, mas o que tive foram cinco dedos levantados em sinal de ‘estou muito ocupado, lhe darei atenção num minuto’. E 10 segundos depois, quando sua internet caiu, atravessou a rua sem nem olhar para trás.
        Samsung e Nokia são assuntos mais citados do que amor e amizade. Como? Por que? As previsões do passado eram de que o mundo evoluiria, mas não é isso que observo quando paro por 10 segundos para olhar para o lado nas ruas. Isso não é evolução. Evolução é desenvolver o cérebro e o coração, em passos análogos. Evolução é unir as pessoas, aumentar o prazer de viver, aumentar o viver.
         Não é esse o meu mundo. Não foi aqui que nasci. Vou voltar para a cama, onde as coisas ainda são reais e a vida ainda é de sonhos. Vou dormir e rezar uma, duas, três vezes ou mais, para acordar no mundo de 10 anos atrás: A internet já havia nascido e ajudava em alguns problemas, mas as pessoas ainda sorriam na porta de casa, ainda conversavam sobre seus dias, ainda namoravam, e crianças ainda brincavam. Vou dormir, vou sonhar. Desejar ter um mundo tremendamente melhor outra vez.


B.S.

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Uma, duas, três vezes ou mais

      Saí de casa numa certa manhã e percebi que tudo estava diferente. A tecnologia dominava o mundo. Não havia mais sinaleiras, não havia mais garçons anotando pedidos nos bares e lanchonetes, não havia professores. Os pais não conversavam mais com os filhos, os amigos não andavam gargalhando na rua.
      No trânsito, os carros paravam quando seus celulares apitavam com novas notificações de redes sociais, todos ao mesmo tempo. Os pedestres notavam sua vez de atravessar, quando a WiFi de seus celulares perdia o sinal. Os pedidos nos restaurantes eram realizados via sms e os atendentes, de longe, executavam as refeições. Pais e filhos se comunicavam via facebook, dizendo, da sala para o quarto: “O almoço está na mesa!”. Os amigos não estavam mais na rua, os amigos já não eram mais verdadeiros amigos, não tinham abraço, não conversavam, só ligados na tela de um computador. Os professores? Coitados... Substituídos por máquinas e mais máquinas, incapazes de negar duas linhas na internet que resumiam todo o seu estudo e tornavam insignificantes quaisquer de suas explicações.
         “Que mundo é este?” Me perguntei quando dei um passo para fora de casa. Meu celular estava na bolsa e eu era o único ser humano capaz de notar o céu azul, os pássaros cantando e pousando perto de mim, os cachorros sentados em frente a frangos girando na calçada. Tentei até perguntar, juro. “Boa tarde, pode me explicar porque tudo está tão diferente?”, mas o que tive foram cinco dedos levantados em sinal de ‘estou muito ocupado, lhe darei atenção num minuto’. E 10 segundos depois, quando sua internet caiu, atravessou a rua sem nem olhar para trás.
        Samsung e Nokia são assuntos mais citados do que amor e amizade. Como? Por que? As previsões do passado eram de que o mundo evoluiria, mas não é isso que observo quando paro por 10 segundos para olhar para o lado nas ruas. Isso não é evolução. Evolução é desenvolver o cérebro e o coração, em passos análogos. Evolução é unir as pessoas, aumentar o prazer de viver, aumentar o viver.
         Não é esse o meu mundo. Não foi aqui que nasci. Vou voltar para a cama, onde as coisas ainda são reais e a vida ainda é de sonhos. Vou dormir e rezar uma, duas, três vezes ou mais, para acordar no mundo de 10 anos atrás: A internet já havia nascido e ajudava em alguns problemas, mas as pessoas ainda sorriam na porta de casa, ainda conversavam sobre seus dias, ainda namoravam, e crianças ainda brincavam. Vou dormir, vou sonhar. Desejar ter um mundo tremendamente melhor outra vez.


B.S.

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