Saí de casa numa certa manhã e
percebi que tudo estava diferente. A tecnologia dominava o mundo. Não havia mais
sinaleiras, não havia mais garçons anotando pedidos nos bares e lanchonetes,
não havia professores. Os pais não conversavam mais com os filhos, os amigos
não andavam gargalhando na rua.
No trânsito, os carros paravam
quando seus celulares apitavam com novas notificações de redes sociais, todos
ao mesmo tempo. Os pedestres notavam sua vez de atravessar, quando a WiFi de
seus celulares perdia o sinal. Os pedidos nos restaurantes eram realizados via
sms e os atendentes, de longe, executavam as refeições. Pais e filhos se
comunicavam via facebook, dizendo, da sala para o quarto: “O almoço está na
mesa!”. Os amigos não estavam mais na rua, os amigos já não eram mais
verdadeiros amigos, não tinham abraço, não conversavam, só ligados na tela de
um computador. Os professores? Coitados... Substituídos por máquinas e mais
máquinas, incapazes de negar duas linhas na internet que resumiam todo o seu
estudo e tornavam insignificantes quaisquer de suas explicações.
“Que mundo é este?” Me perguntei
quando dei um passo para fora de casa. Meu celular estava na bolsa e eu era o
único ser humano capaz de notar o céu azul, os pássaros cantando e pousando
perto de mim, os cachorros sentados em frente a frangos girando na calçada.
Tentei até perguntar, juro. “Boa tarde, pode me explicar porque tudo está tão
diferente?”, mas o que tive foram cinco dedos levantados em sinal de ‘estou
muito ocupado, lhe darei atenção num minuto’. E 10 segundos depois, quando sua
internet caiu, atravessou a rua sem nem olhar para trás.
Samsung e Nokia são assuntos
mais citados do que amor e amizade. Como? Por que? As previsões do passado eram
de que o mundo evoluiria, mas não é isso que observo quando paro por 10
segundos para olhar para o lado nas ruas. Isso não é evolução. Evolução é
desenvolver o cérebro e o coração, em passos análogos. Evolução é unir as
pessoas, aumentar o prazer de viver, aumentar o viver.
Não é esse o meu mundo. Não foi
aqui que nasci. Vou voltar para a cama, onde as coisas ainda são reais e a vida
ainda é de sonhos. Vou dormir e rezar uma, duas, três vezes ou mais, para
acordar no mundo de 10 anos atrás: A internet já havia nascido e ajudava em
alguns problemas, mas as pessoas ainda sorriam na porta de casa, ainda
conversavam sobre seus dias, ainda namoravam, e crianças ainda brincavam. Vou
dormir, vou sonhar. Desejar ter um mundo tremendamente melhor outra vez.
B.S.
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