sexta-feira, 13 de julho de 2012

Milhões de quilômetros rodados e uma única pergunta


Em algum momento da vida, perguntaram a uma pequena garotinha o que ela achava ser importante na vida dela. Ela, com toda a inocência da idade, respondeu: “Cuidar dos meus brinquedos para eles não quebrarem e eu ficar sem nenhum”. E todos riram.

Os brinquedos quebraram e foram sendo substituídos. Mais alguns anos se passaram e eles foram substituídos por celulares, livros, computadores e novas tecnologias. Neste momento lhe perguntaram outra vez o que ela achava ser importante na vida: “Curtir com meus amigos e aproveitar os que devem ser os melhores anos da minha vida”. Seus pais sorriram e julgaram que ela ainda não era capaz de enxergar ou distinguir o que era mais ou menos importante.

Ela cresceu. Brigou com os pais, esqueceu o quarto rosa, as lembranças da infância. Os que eram amigos lhe obrigaram a provar se eram realmente verdadeiros, e a levaram para caminhos os quais ela jamais seguiria se fosse capaz de responder à pergunta que lhe tinham feito no auge de sua adolescência.

Mais alguns anos se passaram, sua vida mudou e se viu no mesmo estado que estava em sua infância, sem certeza de nada, se arriscando para descobrir o mundo. Parou para pensar. Tinha caminhado por tanto tempo, acreditando estar seguindo um caminho para algo maravilhoso. Caminhado por anos a fio, achando estar seguindo todas as etapas extremamente certas se baseando nas palavras alheias. Caminhou tanto que acabou me acostumando e esquecendo para onde ia. Seguiu sabendo que era por algo importante, e acabou chegando ao lugar errado mesmo assim. Enquanto alguns lhe diziam que deveria olhar para si e desta vez se perguntar o que era realmente importante, ela tinha pensado: “Pouco importa. Se estou caminhando, algum dia irei descobrir”.

Passou por todo tipo de gente. Sem juízo, sem respeito, sem responsabilidade, sem paciência, com pressa e com calma, feliz e deprimido, frustrado e conformado, determinados ou acostumados. Perdeu-se na vida. Engravidou e perdeu bebês, bebeu e fumou tudo o que pode ser considerado fora da lei. Seus pais até tentaram, mas ela não lhes deu nenhuma chance.

Chegou ao fundo do poço. Foi quase presa, abandonada pelos que deveriam ser seus amigos, os quais foram considerados, um dia, a coisa mais importante de sua vida. Enquanto esteve sozinha, acreditando que aquele seria o seu fim, tentou contatar seus pais. A única coisa que pôde ouvir do outro lado da linha foi: “O número chamado não existe”.

“Ótimo” – Pensou – “O número não é mais o mesmo. Que merda foi que eu fiz com a minha vida?”. E as lágrimas tomaram o seu rosto. Alguns anos depois ela saia daquele quarto branco e com apenas fiapos de luz penetrando, e estava de volta ao mundo. Com outros olhos e, principalmente, com outra forma de pensar.

Tentou recordar todos os rostos dos familiares que estavam na sala no primeiro dia em que lhe perguntaram o que era mais importante na sua vida. Seus pais, é claro, alguns primos, tios, e amigos dos pais. Bom, dos amigos não lembraria o nome. Pensou nos primos e tios e tentou encontrá-los. Fez desse o seu maior objetivo.

Infelizmente foi no momento do reencontro que descobriu qual deveria ter sido a resposta à pergunta desde a primeira vez. Seus pais já não estavam mais lá, e por isso não havia mais o que fazer. “E eu que pensava que já tinha passado do fundo do poço...” – Concluiu. Hoje são quilômetros rodados contando todos os caminhos que seguiu, e ela ainda se pergunta como não foi capaz de saber, por tanto tempo, quais eram as verdadeiras coisas importantes em sua vida. Talvez tenha servido como lição, quem sabe. Não poderia voltar atrás e se certificar disto, mas tinha entendido o sentido de tantas repetições daquela pergunta por tantos anos.

B.S.


"Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida." - Platão


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Milhões de quilômetros rodados e uma única pergunta


Em algum momento da vida, perguntaram a uma pequena garotinha o que ela achava ser importante na vida dela. Ela, com toda a inocência da idade, respondeu: “Cuidar dos meus brinquedos para eles não quebrarem e eu ficar sem nenhum”. E todos riram.

Os brinquedos quebraram e foram sendo substituídos. Mais alguns anos se passaram e eles foram substituídos por celulares, livros, computadores e novas tecnologias. Neste momento lhe perguntaram outra vez o que ela achava ser importante na vida: “Curtir com meus amigos e aproveitar os que devem ser os melhores anos da minha vida”. Seus pais sorriram e julgaram que ela ainda não era capaz de enxergar ou distinguir o que era mais ou menos importante.

Ela cresceu. Brigou com os pais, esqueceu o quarto rosa, as lembranças da infância. Os que eram amigos lhe obrigaram a provar se eram realmente verdadeiros, e a levaram para caminhos os quais ela jamais seguiria se fosse capaz de responder à pergunta que lhe tinham feito no auge de sua adolescência.

Mais alguns anos se passaram, sua vida mudou e se viu no mesmo estado que estava em sua infância, sem certeza de nada, se arriscando para descobrir o mundo. Parou para pensar. Tinha caminhado por tanto tempo, acreditando estar seguindo um caminho para algo maravilhoso. Caminhado por anos a fio, achando estar seguindo todas as etapas extremamente certas se baseando nas palavras alheias. Caminhou tanto que acabou me acostumando e esquecendo para onde ia. Seguiu sabendo que era por algo importante, e acabou chegando ao lugar errado mesmo assim. Enquanto alguns lhe diziam que deveria olhar para si e desta vez se perguntar o que era realmente importante, ela tinha pensado: “Pouco importa. Se estou caminhando, algum dia irei descobrir”.

Passou por todo tipo de gente. Sem juízo, sem respeito, sem responsabilidade, sem paciência, com pressa e com calma, feliz e deprimido, frustrado e conformado, determinados ou acostumados. Perdeu-se na vida. Engravidou e perdeu bebês, bebeu e fumou tudo o que pode ser considerado fora da lei. Seus pais até tentaram, mas ela não lhes deu nenhuma chance.

Chegou ao fundo do poço. Foi quase presa, abandonada pelos que deveriam ser seus amigos, os quais foram considerados, um dia, a coisa mais importante de sua vida. Enquanto esteve sozinha, acreditando que aquele seria o seu fim, tentou contatar seus pais. A única coisa que pôde ouvir do outro lado da linha foi: “O número chamado não existe”.

“Ótimo” – Pensou – “O número não é mais o mesmo. Que merda foi que eu fiz com a minha vida?”. E as lágrimas tomaram o seu rosto. Alguns anos depois ela saia daquele quarto branco e com apenas fiapos de luz penetrando, e estava de volta ao mundo. Com outros olhos e, principalmente, com outra forma de pensar.

Tentou recordar todos os rostos dos familiares que estavam na sala no primeiro dia em que lhe perguntaram o que era mais importante na sua vida. Seus pais, é claro, alguns primos, tios, e amigos dos pais. Bom, dos amigos não lembraria o nome. Pensou nos primos e tios e tentou encontrá-los. Fez desse o seu maior objetivo.

Infelizmente foi no momento do reencontro que descobriu qual deveria ter sido a resposta à pergunta desde a primeira vez. Seus pais já não estavam mais lá, e por isso não havia mais o que fazer. “E eu que pensava que já tinha passado do fundo do poço...” – Concluiu. Hoje são quilômetros rodados contando todos os caminhos que seguiu, e ela ainda se pergunta como não foi capaz de saber, por tanto tempo, quais eram as verdadeiras coisas importantes em sua vida. Talvez tenha servido como lição, quem sabe. Não poderia voltar atrás e se certificar disto, mas tinha entendido o sentido de tantas repetições daquela pergunta por tantos anos.

B.S.


"Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida." - Platão


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Em algum momento da vida, perguntaram a uma pequena garotinha o que ela achava ser importante na vida dela. Ela, com toda a inocência da idade, respondeu: “Cuidar dos meus brinquedos para eles não quebrarem e eu ficar sem nenhum”. E todos riram.

Os brinquedos quebraram e foram sendo substituídos. Mais alguns anos se passaram e eles foram substituídos por celulares, livros, computadores e novas tecnologias. Neste momento lhe perguntaram outra vez o que ela achava ser importante na vida: “Curtir com meus amigos e aproveitar os que devem ser os melhores anos da minha vida”. Seus pais sorriram e julgaram que ela ainda não era capaz de enxergar ou distinguir o que era mais ou menos importante.

Ela cresceu. Brigou com os pais, esqueceu o quarto rosa, as lembranças da infância. Os que eram amigos lhe obrigaram a provar se eram realmente verdadeiros, e a levaram para caminhos os quais ela jamais seguiria se fosse capaz de responder à pergunta que lhe tinham feito no auge de sua adolescência.

Mais alguns anos se passaram, sua vida mudou e se viu no mesmo estado que estava em sua infância, sem certeza de nada, se arriscando para descobrir o mundo. Parou para pensar. Tinha caminhado por tanto tempo, acreditando estar seguindo um caminho para algo maravilhoso. Caminhado por anos a fio, achando estar seguindo todas as etapas extremamente certas se baseando nas palavras alheias. Caminhou tanto que acabou me acostumando e esquecendo para onde ia. Seguiu sabendo que era por algo importante, e acabou chegando ao lugar errado mesmo assim. Enquanto alguns lhe diziam que deveria olhar para si e desta vez se perguntar o que era realmente importante, ela tinha pensado: “Pouco importa. Se estou caminhando, algum dia irei descobrir”.

Passou por todo tipo de gente. Sem juízo, sem respeito, sem responsabilidade, sem paciência, com pressa e com calma, feliz e deprimido, frustrado e conformado, determinados ou acostumados. Perdeu-se na vida. Engravidou e perdeu bebês, bebeu e fumou tudo o que pode ser considerado fora da lei. Seus pais até tentaram, mas ela não lhes deu nenhuma chance.

Chegou ao fundo do poço. Foi quase presa, abandonada pelos que deveriam ser seus amigos, os quais foram considerados, um dia, a coisa mais importante de sua vida. Enquanto esteve sozinha, acreditando que aquele seria o seu fim, tentou contatar seus pais. A única coisa que pôde ouvir do outro lado da linha foi: “O número chamado não existe”.

“Ótimo” – Pensou – “O número não é mais o mesmo. Que merda foi que eu fiz com a minha vida?”. E as lágrimas tomaram o seu rosto. Alguns anos depois ela saia daquele quarto branco e com apenas fiapos de luz penetrando, e estava de volta ao mundo. Com outros olhos e, principalmente, com outra forma de pensar.

Tentou recordar todos os rostos dos familiares que estavam na sala no primeiro dia em que lhe perguntaram o que era mais importante na sua vida. Seus pais, é claro, alguns primos, tios, e amigos dos pais. Bom, dos amigos não lembraria o nome. Pensou nos primos e tios e tentou encontrá-los. Fez desse o seu maior objetivo.

Infelizmente foi no momento do reencontro que descobriu qual deveria ter sido a resposta à pergunta desde a primeira vez. Seus pais já não estavam mais lá, e por isso não havia mais o que fazer. “E eu que pensava que já tinha passado do fundo do poço...” – Concluiu. Hoje são quilômetros rodados contando todos os caminhos que seguiu, e ela ainda se pergunta como não foi capaz de saber, por tanto tempo, quais eram as verdadeiras coisas importantes em sua vida. Talvez tenha servido como lição, quem sabe. Não poderia voltar atrás e se certificar disto, mas tinha entendido o sentido de tantas repetições daquela pergunta por tantos anos.

B.S.


"Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida." - Platão


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