Em algum momento da vida,
perguntaram a uma pequena garotinha o que ela achava ser importante na vida
dela. Ela, com toda a inocência da idade, respondeu: “Cuidar dos meus
brinquedos para eles não quebrarem e eu ficar sem nenhum”. E todos riram.
Os brinquedos quebraram e foram
sendo substituídos. Mais alguns anos se passaram e eles foram substituídos por
celulares, livros, computadores e novas tecnologias. Neste momento lhe
perguntaram outra vez o que ela achava ser importante na vida: “Curtir com meus
amigos e aproveitar os que devem ser os melhores anos da minha vida”. Seus pais
sorriram e julgaram que ela ainda não era capaz de enxergar ou distinguir o que
era mais ou menos importante.
Ela cresceu. Brigou com os pais,
esqueceu o quarto rosa, as lembranças da infância. Os que eram amigos lhe
obrigaram a provar se eram realmente verdadeiros, e a levaram para caminhos os
quais ela jamais seguiria se fosse capaz de responder à pergunta que lhe tinham
feito no auge de sua adolescência.
Mais alguns anos se passaram, sua
vida mudou e se viu no mesmo estado que estava em sua infância, sem certeza de
nada, se arriscando para descobrir o mundo. Parou para pensar. Tinha caminhado
por tanto tempo, acreditando estar seguindo um caminho para algo maravilhoso.
Caminhado por anos a fio, achando estar seguindo todas as etapas extremamente
certas se baseando nas palavras alheias. Caminhou tanto que acabou me
acostumando e esquecendo para onde ia. Seguiu sabendo que era por algo
importante, e acabou chegando ao lugar errado mesmo assim. Enquanto alguns lhe
diziam que deveria olhar para si e desta vez se perguntar o que era realmente
importante, ela tinha pensado: “Pouco importa. Se estou caminhando, algum dia
irei descobrir”.
Passou por todo tipo de gente.
Sem juízo, sem respeito, sem responsabilidade, sem paciência, com pressa e com
calma, feliz e deprimido, frustrado e conformado, determinados ou acostumados. Perdeu-se
na vida. Engravidou e perdeu bebês, bebeu e fumou tudo o que pode ser
considerado fora da lei. Seus pais até tentaram, mas ela não lhes deu nenhuma
chance.
Chegou ao fundo do poço. Foi
quase presa, abandonada pelos que deveriam ser seus amigos, os quais foram
considerados, um dia, a coisa mais importante de sua vida. Enquanto esteve
sozinha, acreditando que aquele seria o seu fim, tentou contatar seus pais. A
única coisa que pôde ouvir do outro lado da linha foi: “O número chamado não
existe”.
“Ótimo” – Pensou – “O número não
é mais o mesmo. Que merda foi que eu fiz com a minha vida?”. E as lágrimas
tomaram o seu rosto. Alguns anos depois ela saia daquele quarto branco e com
apenas fiapos de luz penetrando, e estava de volta ao mundo. Com outros olhos
e, principalmente, com outra forma de pensar.
Tentou recordar todos os rostos
dos familiares que estavam na sala no primeiro dia em que lhe perguntaram o que
era mais importante na sua vida. Seus pais, é claro, alguns primos, tios, e
amigos dos pais. Bom, dos amigos não lembraria o nome. Pensou nos primos e tios
e tentou encontrá-los. Fez desse o seu maior objetivo.
Infelizmente foi no momento do
reencontro que descobriu qual deveria ter sido a resposta à pergunta desde a
primeira vez. Seus pais já não estavam mais lá, e por isso não havia mais o que
fazer. “E eu que pensava que já tinha passado do fundo do poço...” – Concluiu. Hoje
são quilômetros rodados contando todos os caminhos que seguiu, e ela ainda se
pergunta como não foi capaz de saber, por tanto tempo, quais eram as
verdadeiras coisas importantes em sua vida. Talvez tenha servido como lição,
quem sabe. Não poderia voltar atrás e se certificar disto, mas tinha entendido
o sentido de tantas repetições daquela pergunta por tantos anos.
B.S.
"Não espere por
uma crise para descobrir o que é importante em sua vida." - Platão
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